Só posso inspirar, porque há espaço em meus pulmões
Amor é fôlego e precisa de espaço pra existir.
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Deixe-me contar uma coisa?
Essa sou eu, apaixonada por tartarugas. E não, se me oferecerem um aquário e uma tartaruga de estimação, os mando embora no mesmo instante.
Nem sempre o que amamos precisa estar conosco, considerando tal aprisionamento, é melhor que esteja longe.
No longe, te posso admirar ser livre e feliz.
Essa minha paixão por tartarugas, já tem alguns anos. E não, não sei como ou exatamente quando isso surgiu.
Há quem saiba dizer o exato momento em que se viu caindo de amores por algo, eu no entanto, não saberia te dizer.
Mas calma; tem algo que te quero endereçar sim.
Eis…
Eis a história: moro em uma cidade litorânea, de tirar o fôlego.
Aqui, tem um projeto que faz um trabalho de preservação das tartarugas. Ele é aberto ao público. Sempre - entenda sempre por pelo menos os últimos 3 anos, tive muita vontade de conhecer e ver de perto as tartarugas.
Anterior a isso, tudo que eu tinha eram vislumbres rápidos delas que vem à superfície do mar pra respirar.
É sobre isso que quero falar.
Esse instante.
Breve.
Mas pra falar sobre ele, preciso antes te explicar como foi conhecer o tal lugar em que podemos ver as tartarugas em - vou chamar assim, aquários.
Quanta decepção!
Isso que era pra ser um momento mágico de finalmente poder contemplar de perto e sem necessariamente por apenas um breve instante, foi assim; sem sal.
Elas, que pareciam gostar de se exibir pra nós, estavam ali, tão presas, tão disponíveis ao meu olhar.
Pobres tartarugas.
E não, nem saberia, ainda que quisesse, criticar o espaço que com certeza realiza um trabalho sério e responsável.
Não é sobre isso e nem sei porque me justifico aqui de alguma forma, não estou ofendendo ninguém.
Só digo que: olhar demasiadamente praquela tartaruga enorme, bem ali na minha frente, me fez querer nunca mais voltar ali.
O que eu quis, imediatamente, foi retornar ao píer que me fez suspirar ao - subitamente: “olha lá! Tem uma ali!”
É sobre esse momento.
É uma pena pensar que tudo que sinto nesse momento, seja difícil de capturar em palavras.
Até mesmo porque, há aqueles que não se encantam nenhum pouco pelas criaturinhas de casco. Tornando ainda mais difícil essa tentativa de tradução.
O momento…
O momento ele é simples, é rápido, é vento que passa pelo rosto, pelos cabelos e assim, de repente, em coisa de instante, já não é mais.
Nessa simplicidade cabe uma imensidão do tamanho do mar.
Nesse instante já, cabe uma eternidade que dá pra morar dentro.
Esse sustinho que enche o peito seguido de “olha ali”.
Dá vontade de morar nele. Que vontade de morar nele.
Sorte quando sou presenteada com uma sequência de sustos.
A tartaruga não é menos tartaruga estando presa num aquário; mas a tartaruga que habita o mar, me faz pensar apenas que ela está onde ela pertence.
A beleza de observar o mar e não saber se uma tartaruga vai aparecer, faz o susto tão gostoso.
“De perto tudo é mais feio” (J.G)
Prefiro essa distância necessária pra admirar com paixão aquilo que precisa estar livre para me surpreender - ou não.
Sinto que ainda não consegui descrever.
Talvez nunca consiga.
Mas se eu te contar que houveram testemunhas da minha falta de encantamento com aquilo que achei que seria o mais precioso dos momentos?
Foi assim: com um convite feliz. Achei que seria uma explosão de sustinhos; infinito por pelo menos um instante mais demorado que aquele em que a tartaruga procura fôlego na superfície.
Mas não.
Foi o contrário, e muito menos.
Decidi voltar ao píer, de lá, vi o suficiente pra manter acesa minha paixão e admiração.
Parece que a cada fôlego que os animais tomavam, a mim também retornava algo.
Senti em meus pulmões.
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