Corroída;
Me encaro, e só vejo furos.
"Eu quero o plasma" (C. L). Sinto com o corpo o que isso quer dizer. Ainda assim não consigo dizer em palavras o que é.
Tenho em mim. Tenho em mim. Mas aonde? Em meio a tantos buracos, onde está o entre que possui tal resposta? Viver já não é estar entre? Entre o nascimento e a morte; no viver há de se ter a resposta.
Com agonia infernal me vejo arrastada sempre à mesma coisa. Sempre o mesmo desejo - um ímpeto.
De quê?
Ouso não saber.
E eu odeio dizer que não sei. Tudo e só o que sei, é aquilo que sinto. E não me contento.
Quero e preciso poder nomear. Bordejar aquilo que, por enquanto, está completamente distante e coberto por uma espécie de névoa que embaça minha visão. E talvez por isso é que me sinta fracassando completamente. Sinto o fracasso em seu néctar.
Tenho em mim tantos furos; tenho em mim tantas de mim.
Quem de mim poderia ser soberana sob isso que sou eu mesma? Me vejo apegada a uma fantasia de controle - controle de quê? se é que existe… e se existe, é passível de alcance?
Será que tal posição - a mais alta de mim mesma, conseguiria ser menos esburacada? Ou ao menos ter a postura fingida de ser inteira?
Me sinto oca, e não é que eu queira ser completa - ou é? Mas agonizar nesse estado atual me faz querer morar dentro de minha própria fantasia. Ignorando a liquidez da realidade. Não que haja solidez na fantasia, mas há. Há aquilo que no mundo real não consigo sustentar.
Nessas horas, sinto que meu eu é insignificante e que minha dor é banal.
De uma forma ou de outra, acabo me perguntando: como pode algo tão ordinário me fazer querer corromper os meus princípios?
A isso que nomeio de ordinário, a essa pergunta que me vem - às vezes com tom desconexo mas ainda assim pertinente; é realmente sobre princípio e moral o que me debruço? A linha fina e tênue quase se arrebenta tamanha a sutileza entre a possibilidade de ser uma coisa ou outra.
Sempre. Continuo por sempre não saber.
Mas continuo me indagando. A resposta final parece nunca chegar.
Enquanto isso, vou escalando novas interrogações.
Será que é assim que se alcança o plasma? Honestamente, acho que não. Essa obstinação toda à Coisa faz parecer que, no final das contas, nunca foi sobre ela em si, e sim sobre continuar em busca.
No que diz respeito sobre esse querer incessante e inquieto, a interrogação é o que fica; sempre. Como se a natureza da incompletude estivesse impregnada tal qual uma molécula compondo um DNA.
O desejo está no cerne.
E essa agonia toda que descrevo é o trabalho de parto desse desejo que precisa ser parido.
Ele (eu) quer lugar no mundo!
Me sinto agora como quando Clarice se diz parindo a si mesma: estou mesmo me parindo.
Meu desejo não é O desejo, aquele que está lá, distante.
Aquilo que desejo, sou eu mesma. E me arrisco subverter a clandestinidade.
Sou muitas coisas; tenho em mim muitas de mim.
E sou também tudo aquilo que desejo.
Me escorro e me escapo a mim mesma. Impossível (me) segurar. Não há porque viver escondida - estou me dando a luz.
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